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Resumo Introdução Metodologia Conclusão Bibliografia


Conclusão

A pesquisa que desenvolvemos teve como propósito o mapeamento da produção acadêmica (dissertações e teses) a respeito do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Observamos que há uma expressiva produção sobre este importante movimento na atualidade, que tem colocado desafios e problemáticas para a pesquisa em diferentes áreas do conhecimento.

Agrupamos as dissertações e teses por área de conhecimento, por universidades e regiões predominantes e por ano, no sentido de situá-las no tempo e no espaço. Elaboramos gráficos que ajudam a visualizar e localizar as produções. Este trabalho constitui-se num guia para consulta dos pesquisadores, os quais podem facilmente localizar as pesquisas na sua área, identificar os temas predominantes, as questões ausentes nos estudos e as emergentes.

Em relação às teses e dissertações desenvolvidas nos programas de pós-graduação em educação, fizemos um levantamento dos temas predominantes nas pesquisas, as tendências que vêm sendo observadas e as carências ainda presentes em termos de problematização acadêmica. Realizamos análise sobre as seguintes questões/temáticas: a infância no MST; as escolas dos assentamentos; as escolas itinerantes nos acampamentos e os cursos superiores, com destaque para o curso Pedagogia da Terra.

O que sobressai nas pesquisas é o estudo a respeito da concepção e da implantação / construção da proposta pedagógica do MST, do caráter educativo das suas lutas, das práticas educativas e formativas do Movimento e da luta por escola nos assentamentos. A ênfase recai no estudo dos processos de educação não formal presentes na luta pela terra e no projeto educativo. A maioria das pesquisas centra-se nos assentamentos.

A educação e a escola são pensadas como processos mais amplos. As pesquisas praticamente não entram na dinâmica escolar, no processo ensino-aprendizagem, na organização do trabalho escolar, na avaliação, na alfabetização. Avalia-se que as pesquisas centram-se naquilo que faz diferença, nos aspectos em que o MST inova em termos educacionais.

As tendências de pesquisa observadas centram-se nos seguintes temas: formação de educadores do MST (diversos cursos) e educação de jovens e adultos.

Há uma preocupação em alguns trabalhos com os entraves e dificuldades enfrentadas pelo MST e pelo Coletivo de Educação, no que se refere aos assentamentos, à produção, às cooperativas, à organização e às escolas, compreendendo que os limites são de ordem interna e externa. Por outro lado, os estudos percebem e analisam diversas experiências educacionais desenvolvidas pelo MST, em âmbito formal e informal, que indicam possibilidades de mudança, especialmente na capacidade formativa da base do Movimento.

No que diz respeito às produções que abordam a relação trabalho, educação e cooperação, fizemos uma análise mais profunda, localizando os grandes temas focados e analisando os referenciais teórico-metodológico adotados, a concepção de trabalho, de cooperação e a relação estabelecida com a educação.

A questão central que perpassa os trabalhos diz respeito à formação em sentido amplo, na sua relação com o processo histórico de produção da existência humana. Nesse sentido, o trabalho ganha o estatuto de categoria central. Ele se expressa nas formas de produção da vida e na sociabilidade nos assentamentos; na organização das cooperativas; na dimensão educativa do trabalho produtivo e organizativo; na organização do trabalho pedagógico nos cursos e escolas; nas cooperativas de estudantes; na formação para o trabalho e para a cooperação; na relação entre a pedagogia do MST e as relações de trabalho estabelecidas; na análise da consciência de classe dos sujeitos que constituem o MST, com base na sua capacidade de organização do trabalho; e no trabalho voluntário.

As pesquisas propõem análises diferenciadas a respeito da relação ensino e trabalho cooperado: as que depositam uma forte crença no papel da educação para a mudança social, especificamente, uma aposta nas cooperativas; as que percebem no MST uma tendência para buscar saídas educacionais diante dos problemas cruciais enfrentados pelos assentados e pelas suas cooperativas; e as que compreendem que há uma relação dialética entre formação, trabalho e cooperação, não atribuindo papel exclusivo para a educação e qualificação.

Com base na análise das dissertações e teses acerca da relação trabalho e educação nas ações sócio-educativas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, observamos que: - o campo da educação tem uma fraca presença neste tipo de análise, das 41 dissertações de mestrado e 17 teses de doutorado selecionadas, apenas 8 e 8, respectivamente, são da área da educação.

  • As pesquisas concentram-se na análise acerca do trabalho como orientador da pedagogia do MST, em especial o trabalho cooperado; na relação e contradições observadas entre a proposta educacional do MST e a organização produtiva e organizativa dos assentamentos; na relação entre formação e experiências cooperativas.
  • Em termos metodológicos, observamos que grande parte dos estudos refere-se a experiências escolares no âmbito do MST: escolas de assentamentos, escola de formação profissional (cursos do ITERRA) e escola de formação política (Escola Nacional Florestan Fernandes).
  • As concepções orientadoras dos trabalhos manifestam-se em duas frentes: as que depositam uma forte crença no papel da educação para a mudança social e as que compreendem que há uma relação dialética entre formação, trabalho e cooperação, não atribuindo papel exclusivo para a educação e qualificação.
  • As pesquisas identificam um grande potencial educativo nas ações do MST e uma capacidade inovadora nas escolas por ele dirigidas, especialmente nos cursos desenvolvidos no ITERRA: articulação entre formação e processo produtivo dos trabalhadores; formação com base no trabalho coletivo como processo real de produção e gestão; responsabilidade com a educação não delegada apenas à escola; prática da auto-gestão; cooperação como princípio político, organizativo e educativo.
  • Ao mesmo tempo, percebem dificuldades de articulação entre trabalho e educação nas escolas e programas educacionais. Observam, de um lado, a necessidade de uma formação organicamente articulada com a produção da vida nos assentamentos, em especial as experiências cooperadas. De outro lado, constatam que as escolas que tem como central o trabalho coletivo e cooperado não têm sustentação real, em termos de base produtiva nos assentamentos do MST, visto que ainda são reduzidas as experiências de trabalho e produção coletiva.

No que concerne aos estudos sobre trabalho e cooperativas, analisamos dissertações e teses que se propuseram a pesquisar experiências de cooperativas no interior de assentamentos de reforma agrária vinculados ao Movimento dos Sem Terra, em diferentes regiões do país, com experimentos diversos de cooperativas (de crédito, de comercialização e de produção).

As cooperativas de trabalhadores do MST foram construídas como forma de resistência dos trabalhadores sem-terra assentados, no sentido de possibilitar de forma coletiva a sua permanência na terra e de mantê-los mobilizados junto ao Movimento. É uma proposta que vem sendo experimentada e reavaliada desde o final da década de 1980, quando começam os primeiros debates e preocupações com a questão. Constitui-se numa experiência complexa e contraditória, na medida em que procura aliar a organização política emancipatória do MST com cooperativas voltadas para o mercado.

A cooperação agrícola nos assentamentos é um elemento importante para caracterizar a continuidade das lutas após a conquista da terra. Entretanto, todos os trabalhos analisados que pesquisam experiências de cooperativas em assentamentos do MST apontam suas grandes dificuldades de sobrevivência em termos econômicos, bem como problemas de natureza política.

Há consenso entre todos os pesquisadores de que o contexto político brasileiro não favorece as cooperativas. Além do que, há uma criminalização dos movimentos sociais entre eles o MST e perseguição às suas cooperativas, escolas, assentamentos, acampamentos e ocupações.

Destacamos as pesquisas que avaliam a experiência cooperativista no interior do Movimento, com base em diferentes concepções: os que compreendem que os problemas da cooperativa dizem respeito aos limites dos próprios cooperados e/ou do MST; os que estabelecem uma relação entre o sucesso ou insucesso da cooperativa e a formação política e técnica dos cooperados; os que criticam a ênfase na dimensão econômica das atividades coletivas nos assentamentos, inspirada na visão empresarial de gestão e racionalidade econômica do mundo da mercadoria; os que criticam a redução da cooperação à cooperativa; e por fim os que analisam os limites e as possibilidades das cooperativas no modo de produção capitalista, identificando as tensões entre o velho e o novo.

Buscamos fazer uma análise mais ampla que considerasse as particularidades. Estas indicaram que os obstáculos e os avanços dos experimentos cooperativos coordenados pelo MST são de um modo geral comuns e expressam a contradição em que estão colocadas, enfrentando cotidianamente a força da manutenção das atuais relações sociais (por meio da produção de excedentes, do assalariamento, da produção para o mercado etc) e a força da superação (por meio da autogestão, da organização coletiva e da vinculação a um movimento social organizado).

O enfrentamento ao capital impõe a sua negação, mas especialmente a construção de uma alternativa positiva. Para Meszáros (2002), o MST tenta enfrentar uma tarefa extremamente difícil de unir a esfera produtiva material à política, fazendo-o de formas diferentes, mas complementares. Ele “está abrindo caminho no campo da produção material, desafiando o modo de controle sociometabólico do capital por meio da empresa cooperativa dos sem-terra, e já começando indiretamente a exercer influência no processo político brasileiro.” (p.33)

Ainda que muitos problemas tenham sido identificados nas cooperativas do MST, há consenso entre os pesquisadores estudados e apresentados ao longo deste texto, que não é possível construir alternativas individualmente. O coletivo continua sendo superior.

Por fim, avaliamos, com base nas diversas formas de socialização da pesquisa já realizadas, que ela pode se constituir numa importante referência, em termos metodológicos e de conteúdo, pelo mapeamento geral dos trabalhos e pelo debate sobre o conteúdo das produções. No âmbito do Movimento dos Sem Terra, há o interesse em tomar conhecimento, de forma mais sistematizada, sobre a produção acadêmica centrada em suas práticas sociais, políticas e educativas. No item referente à produção bibliográfica, é possível observar que a socialização desta pesquisa tem-se dado no meio acadêmico e em fóruns do MST.

Visando socializar de forma mais ampla os resultados da pesquisa, para que possam ser consultados pelos pesquisadores e movimentos sociais, organizamos esta página na internet (www.ced.ufsc.br/pesquisamst) e um banco de dados, com os mapeamentos e análises feitos.

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